Só não ponha a mãe no meio
Por Marcelo Ricciardi
Ao final o jogo entre Cruzeiro e Grêmio, pelas semifinais da Libertadores 2009, o argentino Maxi López foi detido pela polícia e teve de prestar depoimento na delegacia. O gremista foi acusado de racismo por ter usado o termo “mico” ou “macaco” em discussão com o volante Elicarlos, do Cruzeiro. Todo mundo aqui deve se lembrar do episódio envolvendo Desábato e Grafite, em 2005.
Não vou repetir o quanto o racismo é algo idiota, penso que a maioria já saiba, tomara! Por outro lado, sempre achei também que o que acontece em campo, morre no campo. No calor de uma partida, o emocional pesa. Portanto, quem xinga a mãe do adversário sabe que ela não cobra para fazer sexo, só quer desconcentrá-lo de alguma forma.
Existiria algum limite para a provocação? Na Europa, cogita-se até a perda de pontos para o clube cuja torcida faça provocações de teor racista. O problema é diferenciar quem merece ou não o mesmo tratamento. Pense nos homossexuais, por exemplo. Para alguns, é de uma escolha do indivíduo. Já outros acreditam em uma tendência natural, inata, como a cor da pele. Chamar de “viado”, sejam os jogadores ou a torcida é, em tese, tão ofensivo quanto de “macaco”. A ausência de punição para a homofobia atualmente refletiria a pouca representatividade que esse segmento ainda tem, ao menos em relação ao dilema dos negros.
Ok, como branco, é muito fácil para mim falar assim. Realmente, só quem sentiu na pele (sem trocadilhos) o preconceito sabe o quanto machuca. Já que ainda não fui vítima de discriminação assim, posso tocar no assunto com maior neutralidade, sem entrar muito no terreno traiçoeiro das emoções, sempre presentes no julgamento que cada um de nós faz. Não estou sendo racista ao levantar esse questionamento.
Porém, ao olhar as imagens do bate-boca, o cruzeirense Wagner, próximo ao lance, aponta para a parte de seu braço descoberta e diz algo como: “A pele (ou a cor) não”. O que nos faz voltar ao questionamento inicial: existem algumas feridas que não podem ser tocadas? Há algum tipo de código de ética próprio dos boleiros, do que se pode aceitar ou não?
E, se os níveis do aceitável podem mudar com o tempo, será que no futuro até chamar o Fenômeno de gordo vai ser intolerável? Alex Alves, ex-Cruzeiro, teve que ouvir todo tipo de palavrão e musiquinha a respeito de sua noiva, ex-namorada do mesmo Ronaldo, em jogo contra a Caldense. Imagine só o que veio dos marcadores. Seria correto acionar cada um por difamação e injúria? “Sou pistoleiro, mas não mato mulheres e crianças”...